Nesses últimos dias estive entre 3 mundos: O Hindu, o Muçulmano e o Moderno. Além desses, que eram os principais a cada lado, ainda tinham as influências de todos os outros e estou exausto! A última noite principalmente assinou o futuro próximo: um curto exílio no mundo moderno para recuperar as forças.
O mundo Hindu foi o que eu vi em Hampi, uma cidade no interior da região da Karnatka, para onde fui fugindo do mau tempo das monções. Ai eu encontrei outro mau tempo, o do deserto: pedras marrons poeira e para completar a chuva o dia inteiro no horizonte e de vez em quando um ou outro pingo na gente só pra dar mais cede. Mas não era tão mal pois estava num vale bem amplo onde não chovia mesmo mas o vento estava agradável e o simples fato de ver o azul do céu depois de quase 2 semanas já era um agrado e tanto.
A estadia em Hampi foi muito foda! Formamos uns grupo entre Brasil (só eu dessa categoria) Israel, Inglaterra, Escócia e Alemanha, alugamos umas motinhas e fomos conhecer os templos, os banhos, as piscinas antigas e depois também as plantações, as vilazinhas minúsculas e até um engenho de cana de açúcar com garapa de cana e rapadura de primeira qualidade eu encontrei!
O lugar tem um mercado turístico muito bem feito, confortável mas sem perder a atmosfera indiana e sem formar um lugar falso. É uma cidade sagrada, então não tem nem nada que não seja vegetariano e nenhum tipo de álcool, o que de certa forma é bom pra espantar aquele turismo mais perda total que tem em Goa. O legal ali é viajar no tempo curtindo as ruinas e o visual do deserto em contraste com o oásis formado nas margens de um Rio que vem das montanhas na costa e traz de lá muuuita água das monções. Subindo nos mirantes dava pra ver o marrom pra todo lado e aquela costa de verde nas margens do rio, muito legal.
O mais legal de tudo é o quão legítima a viagem no tempo é nesse lugar. É muito maior que a fachada dos prédios! As pessoas cultivam os mesmos deuses e valores de centenas de anos atrás, aí vc vê as vacas pra todo lado (chifrudas como eu quase me esqueci que eram, mas bem verdade que muitas carregavam carroças e eu não entendi ainda como pode), os homens usam saias e andam de mãos dadas pelas ruas, os turistas não são muitos e enquanto a gente se interessa pelo povo eles se interessam pela gente e pedem pra bater foto perguntam nome, país, o máximo que conseguem... um ambiente muito bom. Num dos templos que a gente foi estavam construindo uma nova ala aí eu meio que reprimi dizendo que estavam construindo uma atração turística meio falsa, e dei essa idéia pra um indiano. Ele me contestou dizendo que estavam construindo mais um templo pra adorar os mesmos Deuses, algo totalmente legítimo, e eu tive de concordar.
Aí vai um videozinho do passeio de motoca da galera!!
Todas as noites por volta do por do sol o povo se reúne dentro de um dos templos e cantam umas músicas lá. O por do sol é uma atração a parte no lugar também... o nosso grupo pra definir o que iria fazer no dia começava escolhendo onde a gente ia curtir o por do sol. Um céu cor de rosa que eu nunca tinha visto... to mais acostumado cons tons laranja.
Aí olhamos no mapa e resolvemos seguir para Badami. O grupo se desfez e seguiu cada um prum lado, e isso é o mais legal de viajar sozinho. Cada hora com um grupo diferente, pessoas diferentes pra conhecer lugares diferentes e mais pessoas diferentes. Aí seguimos eu e a Shira, uma israelita judia bastante religiosa e quase tão nerd quanto eu pra ver os aspectos culturais daqui, com quem passo horas trocando observações do que a gente vê. O que nos levou pra Badami foram umas cavernas Hindus, bem legais mas de novo tomou a cena a diversidade cultura do povo.
Embora a atração fosse Hindu, a região era essencialmente muçulmana. Tinha mesquitas bem naquele formato Aladin e quase não se viam mulheres nas ruas, e quando as víamos estavam de preto dos pés à cabeça. Isso é a maioria, pq sempre tem umas vestidas com os saris, que é aquela vestimenta colorida mais tradicional da índia, e é incrível como podem coexistir extremistas de lados opostos em um lugar tão pequeno. Mas a cidade foi um atentado à nossa sanidade, pois não tem nenhum suporte a turismo de forma nenhuma, ninguém fala inglês, o povo te encara muito estranhamente nas ruas. Eu e a Shira éramos os únicos brancos e ela provavelmente a única judia. A gente era a atração principal. Mesmo quando fomos ver as cavernas, chegamos lá tinha um tour de uma escola e os moleques não queriam nem saber das pedras, só atacavam a gente e ficavam olhando. Até o professor vinha pra bater papo, mas como não falava inglês não passava do where are you from e what is our name. A rua principal é um caos inimaginável! Um transito cabuloso numa cidade bem menor que o bairro de Lourdes e mais gente andando que no centro de BH!!
Mas a cidade tem uma vocação pro turismo muito forte. Aqui deu pra ver investimento nisso. Construíram um lago artificial - só esqueceram de proibir as lavadeiras de usarem ele, então não vai durar muito - colocaram umas estátuas representando a vida pré-histórica na região, contruíram 2 museus bem novos e agora estão arrumando a cidade pra receber gente, além de manter muito bem as cavernas é claro. Mais ainda têm muito o que fazer: tem cachorro, gato, rato, bode, vaca e muitos porcos pra completar a festa no meio da rua cagando onde quiserem, enfim, fazendo aquele ambiente agradável... As ruas são bem no estilo de vila, bem estreitas, com chão de pedra, gente pra todo lado, quase agradável, por enquanto só curioso... mas deixa dar mais tempo que vai ficar um lugar gostoso de se ficar por uns dias, talvez como Hampi, mas por enquanto é um exercício de paciência e tanto...
Foi interessante quando fomos na internet, que era dentro da casa de uma família. eu até tentei usar mas era lerdo demais, então nem rolou, mas o massa foi a Shira brincando com as crianças da casa e vendo fotos da família de casamentos e tal. Tinha um muleque que falava um inglesinho mais ou menos e dava pra conversar. Pra ela foi o máximo que ela falou que foi a primeira vez que conversou com uma família de muçulmanos e tava quase chorando quando saiu da casa. Ela não é nem um pouco radical e acredita que a convivência seja possível, mas falou que em Israel é totalmente segregado e que por isso nunca tinha tido contato. Deve ter sido marcante pra ela e foi um pouco pra mim só de ver a cena...
Já tava afim de um descanço num lugar mais calmo e resolvemos ir pra Bijaipur, uma cidade maior ainda dentro da região islamica. Pegamos um trem pra Aurangrabad e fomos só pra passar raiva.
Na estação rodoviária roubaram minha carteira. Não perdi dinheiro, mas foram embora os cartões, e não tenho como sacar mais nada... o pior é que na Índia fica difícil de lidar com a situação: bloquear, pedir novos, arrumar algum lugar para recebê-los, qualquer telefonema é uma novela... Fiquei puto e nem queria passear pra lado nenhum e nem fomos numas mesquitas gigantes e passamos o dia no hotel jogando baralho... compramos um bilhete pro trem na mesma noite só pra afundar mais ainda no inferno astral.
O bilhete não foi confirmado, então não teríamos acentos... podíamos viajar, mas ia ser na marra, sentado no chão com mais uma galera que teve a mesma sorte que a gente, do lado da latrina mais porca que eu já vi na vida... Era rir pra não chorar e por um momento a gente até que conseguiu, mas depois foi ficando muito irritante e dava pra ver o desconforto na nossa cara... eis que uma boa alma cedeu seu acento - na verdade é uma cama - pra Shira, e ela resolveu dividir. Nassa, pra que... a cama não era grande o suficiente pro meu tamanho de comprimento e mesmo os braços tem que estar perto do corpo ou já caem pro lado de fora. O ventilador não funcionava o calor era infernal. Esprememos ali os dois ainda na companhia do meu travesseiro de 2 mil dólares, a mochila onde guardo o computador, o iPod e a máquina de fotos que num ia deixar de lado de jeito nenhum naquelas circunstâncias. Foi aquela coisa: arruma uma posição aguenta até doer demais, muda, muda de novo até achar mais uma e nem olha pro relógio pra não perceber que o tempo não esta passando. Embaralhamos os braços e as pernas nas mais diversas posições possíveis numa cumplicidade muito grande da parte dos dois, principalmente dela já que não estamos tendo um caso e dadas suas convicções religiosas... na maioria do tempo estávamos em posições no mínimo intrigantes dentro da relação de um homem e uma mulher, e confesso que tive de me concentrar pra não misturar as coisas mais do que já estavam misturardas. Foi realmente uma experiência para dar uma nova definição à idéia de "dormir abraçadinho".
Por volta das 2 da manhã meu corpo inteiro estava formigando e perdi a calma. Levantei empurrei uns indianos e fiz pra mim um espaço no chão. O foda é que na Índia os pés sã considerados partes impuras do corpo e então fica mais difícil de se encaixar no meio da galera quando não pode colocar os pés nem perto de nada que não seja outro pé. Eu meti o meu pezão na cara de uma velhinha que acordou só pra me meter um tapa e ensinar a respeitar a cultura dos outros, e me encolhi um pouco mas acabei achando alguma coisa que, naquelas circunstâncias, era quase confortável.
Essa foi sem dúvida a pior viagem da minha vida considerando um trecho único. O pior de tudo foi que eu estava pronto pra chegar e capotar nos trens tão bons que são quando se tem os bilhetes e não estava preparado de antemão para o perrengue... pior que isso foram só os 5 dias entre Cuzco e BH, que foram mais ou menos 5 dias nas mesmas condições dessa viagem, tossindo igual um porco, com a garganta fechada de bactérias e sem poder comer... mas é isso aí, o que não mata fortalece, até hoje nada me matou hehehe
Então chegamos hoje em Pune, 3.8 milhões de habitantes, e ligeiros confortos do mundo ocidental. Paro por 2 dias pra descançar, me despeço da Shira terça feira quando ela volta pra Israel, e sigo pra ainda não sei onde, sozinho até o próximo encontro.
Tive uma viagem interessante hoje e concluí que a idéia de meditação de isolar os sentidos limpar a mente, e meio que isolar do mundo não podia ter se desenvolvido em nenhum lugar que não seja esse. Algumas vezes a gente tem que fingir que não escuta, colocar óculos escuros como que escondendo dos olhares curiosos, ignorar o cheiro até que seja impossível... como eu não sou monge eu faço isso pegando um bom hotel com chuveiro quente e cama confortável... cada um tem seu jeito de encontrar a sua paz...
em 2 dias estarei pronto pra mais!
abraços!
Abaixo vão as fotos de uma maneira diferente dessa vez, pq esta muito difícil de manter elas naquela apresentação bonitinha de antes... se vc clicar nas fotos abrem-se mais possibilidades, e agradeçam ao Flickr...
domingo, 9 de setembro de 2007
Hampi-Badami-Bijaipur
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7 comentários:
Marcelo, as fotos tão muito bonitas. Mande mais.
Norberto.
Voce está comendo alguem ai nesse lugar ?
pato,
show de bola! imagino a cara da judia ao se relacionar com os muçulmanos, deve ter sido um choque pra ela mesmo!
paia o roubo dos cartões hein? tomara que seu pai dê um jeito!
continuamos na espreita, bom proveito ai, mr. nash!!! aquele abraço, té mais!!!
Essa distribuicao informal de riqueza eh foda... Usa o meu cartao ai o quanto precısar, deve ter uns 2 mil dolares na conta.
Abracao pato
Ah, acho q o cartao tah bloqueado aında mas deve dah pra desbloquear num ATM qualquer
Que inveja positiva ou!!! fotos lindas!!!1 e aparece que está paroveitando muito né!!! bjo
Mais uma vez fiquei com água na boca em ler seus posts... que vontade de passear tb!!
Devia ter ficado mais uns dias nos EUA e seguido viagem contigo... :)
Aproveitaaaaaaa!
Beijos!!!!!!
adorei a parte q vc levou um tapa.. hahahaha..
cuidado com seus pertences nenem..
bjinhus!
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