domingo, 30 de setembro de 2007

Egotrip de escritor...

Ok, vou usar esse título sempre que colocar um texto "autoral" por aqui... assim dá pra identificar mais fácil...

pois bem, dessa vez eu gostei mais da ideia que eu tive e resolvi desenvolver ela um pouco mais, então o texto vai sair em forma de partes, acho que serão 4, por enquanto só fiz a primeira. Então , agora além de ter a estória da viagem no viajandão, vou divulgar também uma novelinha de quatro capítulos hehehehe

aí vai a primeira parte, abraços! Ainda não tenho um título pra estória não...

Ah, tem também o post sobre o curso de budismo aí em baixo, pra quem ainda não viu!!
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Parte 1 - Da origem de tudo o que se passou nas próximas partes, ou simplesmente "Introdução".
Favor desconsiderar as heresias.

O começo de tudo foi uma crise conjugal. Mal tirou o pênis de dentro de sua esposa e o marido ficou um pouco agitado por um comentário qualquer por parte dela, e acabou começando uma briga feia. Grita prá lá, xinga de cá, mas o argumento final é sempre a força, e a disputa acabou quando o marido empurrou violentamente a mulher contra a parede, e ela bateu forte caindo no chão a chorar. Isso foi suficiente para encher o marido de sincero remorso e reconciliar a briga, mas o estrago já estava feito. Pra quem acha que isso vai ser apenas uma crise entre marido e mulher, recomendo que leiam os próximos parágrafos, já que eu mesmo não teria paciência de contar uma estória do tipo Um Lugar Chamado Nothing Hill.

Na verdade por hora não nos interessa como ficou a relação entre marido e mulher. Acontece que já se haviam passado alguns minutos, e a corrida dos espermatozóides estava chegando ao fim quando a confusão entre o casal chegava ao ápice. Os bichinhos já cercavam o óvulo aos montes naquele empurra empurra que dá pra ser imaginado pensando num estádio com um Cruzeiro e Atlético em alguns minutos, sendo que o público meio que sabe que só pode entrar uma pessoa! Eis que logo antes do empurrão acontecer, um dos guerreiros do macho penetrou a defesa e adentrou o óvulo, fundando a filha que viria em 9 meses.

Mas seriam duas filhas, gêmeas. O problema começou nisso, porque logo antes do empurrão ainda deu tempo dá primeira célula se dividir em duas, e além disso aconteceu também, sem ninguém saber porque, aquela divisão que separa essas duas células, e faz com que venham gêmeos idênticos. Só que quando veio o empurrão, a violência do choque contra a parede foi suficiente para fazer com que uma das células de uma das irmãs se rompesse. Voltando a ser somente uma célula e então uma pessoa pra nascer. Deu pra entender mais ou menos?

Entretando Deus, omnisciente que é, já sabia há muito tempo que viriam gêmeas, então já tinha despachado duas almas para as novas pessoas que viriam ao mundo. Ele sabia como era bom e relaxante o sexo que tinha criado, e então mesmo ele nunca podia imaginar que viria a sair uma pancadaria logo após uma saudável sequência de orgasmos, especialmente entre um casal que aparentemente se amava. Nem deu tempo de as almas alcançarem suas células e uma delas já tinha sido arrebentada. Deus percebeu que podia dar uma briga feia se tivesse que resolver qual das duas ia ter que entrar na fila pra nascer de novo, que estava demorando bastante nesses dias em que ninguém mais quer ter filhos a não ser os indianos. Aí, bastante orgulhoso, teve uma idéia que lhe pareceu Divina: ia enfiar as duas almas num corpo só.

Deus, na sua sabedoria suprema, cogitou infinitos aspectos da sua divina idéia e lhe pareceu que seria magnífico. Pra começar, o princípio de que a alma é semelhante ao corpo seria mantido, já que era uma mulher que ia usar as duas almas. Isso porque se ela pesasse 52, uma ia ter a certeza de que pesava 50 e a outra ia se sentir uma obesa com 55; 5 quilos eram mais que suficientes para diferenciar duas almas. Deus pensou também que tava muito difícil ensinar alguma coisa pras suas almas, que vinham, viviam, e voltavam do mesmo jeito, e algumas vezes até piores, sem nenhuma evolução no plano espiritual. Deus pensou que, se o experimento desse certo, poderia começar a colocar mais de uma alma em cada pessoa, e assim acelerar o aprendizado do enorme corpo de almas que tinha, e fazer do céu e do universo um lugar melhor mais rápido, sem ter que apelar pra mandar alguém pra fazer milagres denovo, já que não tinha dado muito certo da primeira vez.

Além disso, Deus sabia que o cérebro que tinha dado aos humanos era muito melhor do que eles ainda sabiam usar, e além disso sabia que ninguém tinha entendido muito bem como o cérebro funcionava, e como ele tinha certeza que sua invenção mais incrível daria conta do recado, decidiu confiar ao cérebro de uma mulher a tarefa de administrar duas delas, sem levantar suspeitas aqui na Terra. Nesse momento Deus precisava de um homem pra lhe dar conselhos, pois qualquer um dos que está lendo pode saber que um cérebro é normalmente insuficiente pra administrar a, digamos interessante, mentalidade feminina, mas como os anjos são assexuados, a burrice de Deus passou em branco. Jesus tava muito ocupado atendendo a orações e nem viu o que se passou. Talvez ele pudesse ter ajudado, já que como veio à terra e conheceu Maria, Maria Madalena e outras mais, poderia ter sido útil também.

Decisão tomada, as almas meio que perceberam que iam dividir o mesmo corpo e quase levantaram uma briga. Mas Deus acalmou elas com uma rápida conversa de cooperatividade e mandou logo aquele processo que esconde da alma o que ela lembrava das outras vidas e até mesmo do céu, pra que ela possa nascer denovo sem sair falando pro mundo revelando os mistérios do universo. Elas obviamente esqueceram também que iam dividir o mesmo corpo, então poderiam viver tranquilas sem ter uma crise de identidade, que viria a estragar tudo. Assim começou a vida que levava em sí duas.

Quem acha que está tudo prestes a ser um enorme fracasso ignora o supremacia da criação de Deus, todo poderoso! O que é mais impressionante é que Deus pode até ter usado alguns de seus poderes para fazer seu teste dar certo, mas a experiência foi bem sucedida. É bem verdade que ele prestou muita atenção na vida daquela(s) mulhere(s), e até mesmo suas orações furavam as filas e eram ouvidas prontamente por Deus em pessoa, que era obviamente sábio o suficiente para não atender a todas elas né? Mas nesse contato muito próximo com Deus, aquelas mulheres vieram a ter uma vida iluminada e tranquila, que merece ser relatada brevemente. Isso nos leva à segunda parte dessa estória...

É claro que nem tudo foi maravilhoso nos céus durante essa vida. Deus esteve sempre muito atento estressado, fumando um cigarro atrás do outro, xingando Deus e o mundo! Só pra dar uma idéia dos problemas que ele enfrentou, usando uma imagem que já foi apresentada: uma das almas adquiriu uma ligeira afinidade pelo Cruzeiro, e a outra uma enorme paixão pelo Atlético, e então, já que as duas dividiam o mesmo corpo, pra que lado do campo elas iriam num dia de clássico no Mineirão?

Mas denovo, isso é matéria pra segunda parte da estória...

M.V.A.
30 de setembro de 2007




sexta-feira, 28 de setembro de 2007

foram só 10 dias mesmo?

Mais um posto gigante... fazer o que? Acho que vcs já estão acostumados...

"A gente pode pensar no exemplo de 3 criminosos. Vamos supor que eles foram os três condenados à morte, e irão ser executados em 1 hora. Imagina que eles são colocados na mesma cela e a gente pode ver lá dentro e os três começam a brigar, socando chutando e até mordendo uns aos outros. Isso porque eles vão ser executados em uma hora. Alguns de vocês que são mais sensíveis podem até vir a chorar, mas a maioria das pessoas de olhar a cena vai pensar: "Tão triste..." uma hora de vida e estão brigando...


Mas na verdade, o mesmo exemplo vale exatamente para nós todos... podemos ter um pouco mais de tempo, então podemos não perceber, mas quando brigamos uns com os outros fazemos exatamente o que os três prisioneiros fazem."

Lama Lohk Thor
Tushita, setembro de 2007

Ai ai ai... 10 dias que no final das contas podem ser resumidos no trecho acima. Esse cara é o diretor da biblioteca de arquivos do Tibet e foi o tradutor do Dalai Lama por 15 anos, e num dos dias do nosso curso ele deu uma aula pra gente sobre "Equanimidade" nem sei se a palavra existe em português, mas a idéia é tipo híper mega compaixão, ou algo assim...

Vamos fazer o flashback e começar do começo... começou bem maior que eu esperava... achava que seriam umas 10 ou 20 pessoas no curso e eram na verdade umas 80... percebi a sorte que eu tive pois fui o último da lista dos inscritos efetivamente, mas muita gente não apareceu e algumas pessoas que não estavam na lista puderam participar, ou seja, o roubo da minha carteira até que serviu pra alguma coisa...

Pra manter a lei do silêncio, confiscaram nossos computadores, iPods, telefones e até as máquinas de foto foram pro cofre descansar. Definiram os quartos por ordem de chegada, então eu cai num quarto com mais 3. Os mesmos 3 formaram comigo o time dos lama, isso porque cada pessoa vai ter um trabalho pra fazer durante os 10 dias pra manter a casa rodando. Varrer o chão, lavar a louça e, é claro, limpar as latrinas. Advinha qual que ficou pra última pessoa inscrita? Então durante os 10 dias eu e meus 3 companheiros de quarto tivemos de limpar os 4 chuveiros que banhavam o povo, e além disso 4 das 10 privadas onde 80 pessoas cagavam e mijavam diariamente...

O primeiro dia foi mais de familiarização, e a gente ainda podia conversar. Ai rolou uma conversa com os professores dando uma idéia de como ia ser, e depois ja veio a janta, e aí depois da janta a primeira seção de meditação, que também marcaria o início do silêncio.

Vo ter que explicar um pouco do que aprendi sobre meditação pra poder explicar o que rolou durante os dias, pq na real foi só qo que a gente fez... meditar e estudar o Budismo. Sobre meditação eu fiquei de cara com a força da técnica, muito impressionante. Sobre o budismo, o primeiro que aprendi foi: Budismo É sim uma religião. Eu ouvia dizer que era mais uma filosofia de vida ou um caminho espiritual mas aprendi que é uma religião tão completa quanto todas as outras que já conheci, só que é mais fundamentada em lógica e não admite a existência de um Deus criador todo poderoso. Vai lendo que eu explico mais. Vamos voltar pra meditação pra eu poder continuar com os fatos:

Existem basicamente 2 tipos de meditação: Objeto-único e Analítica. Na primeira a idéia é focar exclusivamente num objeto e não desviar a atenção por nada. O objeto utilizado é em geral a respiração, já que está sempre presente, e a idéia é que a meditação meio que integre seu dia a dia então vc vai ter sempre ali a respiração pra utilizar. O objetivo é adquirir clareza e estabilidade da mente em direção ao objeto. Perceber a respiração em seus diversos estágios e manter tal percepção inabalável por qualquer influência externa - sons, dores no corpo, que são relativamente fáceis de ignorar - mas o que é pior, isolar de influência interna, ou pensamentos. Não ouvir nada, manter os olhos abertos e não ver nada, ignorar a mosca que pousou no seu nariz e mais difícil ainda, não deixar a mente ir pra outro lado a não ser a respiração. Na verdade, pelo menos pra mim, pareceu que é meio que um treinamento pra o outro tipo de meditação.

Na primeira seção, só 5 minutos, falaram pra gente contar as respirações que isso ajudava a concentrar... no final teve só umas duas pessoas que conseguiram passar do 2.

A outra meditação, a analítica, e mais complexa. A idéia é tomar um objeto um pouco mais amplo e analizar ele logicamente incentivando a idéia, tentando gerar um sentimento, um estado de espírito. Aí a gente tenta concentrar nisso que foi criado e observar nossas reações, e quando começar a baixar a vibe, a gente influencia ela denovo ou deixa ir embora e termina a seção. Só que é muito mais bizarro que rezar por exemplo, pois os tópicos que vc toma pra meditar vem da filosofia Budista que são muito estranhos... além disso vc não pensa só em coisas boas... nem de perto... a gente meditou sobre amor e compaixão, mas também, muito mais até, sobre sofrimento, morte, "attachment". Uma das cenas que a gente usou pra meditar sobre sofrimento foi imaginar a gente dentro de um prédio pegando fogo, vendo gente pulando pela janela, corpos no chão, sua respiração doendo do calor, as chamas chegando perto de vc mais e mais. Isso lá pro sétimo dia, quando a gente já conseguia concentrar relativamente em uma coisa só e a imagem ficava muito viva quando a única coisa que vc ta fazendo é prestar atenção na instrução e detalhar a cena o máximo possível. No final eu lembro que ele falou: Deixe suavemente a vizualização se perder, lembrando que vc está no centro Tushita meditando, aí eu fui acalmando e percebi que os músculos do meu corpo inteiro estavam travados completamente, meu pescoço tava duro igual um pau e a minha cara tava naquela expressão de dor como se alguém tivesse me espancando. Se alguém que está lendo duvida eu recomendo que procurem alguma aula de meditação e façam pra vcs verem o quanto a mente é capaz de inferir sentimentos de qualquer sorte, afinal de contas, sentimento vem da mente. Mente não quer dizer cérebro no budismo, é tipo um ente maior que pertence a cada um, mais ou menos como a idéia de espírito ou alma que a gente tem.

Bom, voltando a sequencia dos fatos, depois da primeira seção de meditação fomos comer e o rango era vegetariano, mas como pude concluir no final dos 10 dias, era muito bão.

Aí meio que definiu a rotina que teríamos dali pra frente. Acordávamos às 6 com uma pessoa que batia um sininho - era o trabalho dela, tal como o meu era limpar a privada - aí 6:45 começava a primeira seção de meditação, que era sempre objeto-único pra observar como a mente começava o dia. As meditações eram de 45 minutos, mas eram divididas em pequenos intervalos de 5, que aumentaram pra 10, depois 20 e no final era 45 minutos quase direto. Depois da primeira meditação vinha o café da manha, que era bão tamém, aí uma hora de a toa, onde como ninguém podia conversar, todo mundo ficava lendo um livro, viajando ou meditando. Aí às 9 começava a "aula teórica" sobre Budismo, que durava até as 11. A professora era uma americana que virou freira Budista, as aulas eram em inglês e abordavam os tópicos essenciais do Budismo. No próximo parágrafo eu vo escrever um pouco sobre isso, mas deixa eu terminar a rotina diária. Às 11 começava a aula de Yoga, que ia até o meio dia quando vinha o rango. Depois, estávamos a toa até as 2, quando recomendavam que a gente fizesse nossos trabalhos, então a gente combinou de limpar a privada todo dia às 1 da tarde. Aí, às 2 vinha o grupo de discussão, que tinha uma pergunta proposta pela professora, sobre o que rolou na aula de manhã e a gente tinha que trocar idéia. As perguntas eram em geral do tipo: "Saber sobre o assunto da aula da manhã faz alguma diferença no seu dia a dia? Se não, vc utiliza algum outro tipo de filosofia?" Aí às 3 vinha o chá, até 3:30, quando começavam mais 2 horas de aulas, até 5:30. Aí a gente só dava um rolé e bebia água e tinha meditação analítica às 5:30 até 6:15. Depois vinha a janta, e às 7:30 tinha o último compromisso, mais uma seção de meditação de 45 minutos, normalmente uma analítica.

Assim foram os 8 primeiros dias. Os 2 últimos foram o "Retiro" quando a gente só meditava, comia e dormia. 8 seções por dia de meditação, quase todas analíticas, tirando a primeira e a última, e uns 5 minutos de obejto-único na respiração no começo de cada seção analítica. Dá pra ver que a atividade cerebral tá na alta durante o curso inteiro né?

Agora vou passar um pouco sobre os tópicos do Budismo, e ver se termino esse post que me parece que já tá grande...

Tudo começa assim: o que vc quer fazer da vida? Aí o povo responde um monte de coisa cada um diferente, ser médico, professor, vagabundo, ir viajar, comer comida boa, ter uma mulher gostosa... aí a gente vai digerindo e conclui que podemos resumir a resposta dizendo: "eu quero ser feliz". É uma resposta bem abrangente né? Bem exata embora não muito precisa.

Aí depois vêm: o que vc não quer da vida? Aí o povo descarrega um monte de merda que no final da pra resumir em: "eu não quero sofrer". Resposta igualmente consistente né?

Aí depois vem a provocação: ok galera, aparentemente todo mundo sabe o que quer da vida, quer ser feliz e não sofrer. Mááááás, parando pra pensar... "Estamos fazendo um bom trabalho?" Aí vem a brincadeira, pq a idéia central do Budismo é que na verdade estamos fazendo um péssimo trabalho e na verdade é impossível encontrar qualquer coisa que seja felicidade verdadeira no mundo terreno em que vivemos. O argumento pra definir o que eles chamam de felicade verdadeira é algo que, se é verdadeiro e genuíno, poderíamos fazer sempre a mesma coisa e estaríamos sempre felizes, e é bem fácil de ver que não dá pra achar, baseado no que a gente pensou antes como fonte de felicidade, nada que satisfaça tal condição, que apesar de meio extremista, ainda tem algum fundamento.

Assim começaram não somente as aulas mas também toda a teoria Budista. A idéia é que o Buda, por volta do ano 500 A.C., quando tinha uns 20 e tantos anos, encontrou o caminho pra felicidade eterna, e passou o resto da vida ensinando o caminho até morrer por volta com uns 80 anos. O primeiro ensimento do Buda foram "As 4 verdades nobres" que são:

1- O sofrimento existe
2- Existem causas para o sofrimento
3- O sofrimento pode ser interrompido
4- Existe um caminho para interromper o sofrimento

Além desse, são atribuídos mais de 80.000 ensinamentos ao Buda, e além deles vem as interpretações dos seus discípulos mais proeminentes, e então forma-se um corpo teórico incrívelmente abrangente em torno essencialmente dessas idéias. O mais legal e a insistência do próprio Buda em que cada aluno teste seus ensinamentos baseado em qualquer ponto que quiser. Meio como que o Papa dizer pros fiéis questionarem usando sua lógica se Jesus o homem que veio a terra é ou não o filho de Deus, se ele ressuscitou ou não e tudo mais... Além disso, o Buda, Sidarta Gautama, o que é famoso, quando encontrou o caminho pra felicidade eterna descobriu outros seres que já haviam encontrado, e depois dele também houveram outros, e todos nós podemos encontrar também. Além disso, o budismo acredita em re-incarnação, mas num sentido muuuuito mais amplo que os espíritas do Brasil - pelo menos até onde eu entendo do espiritismo - assumem. O contínuo da sua mente passa de uma vida pra outra, mas não somente de humano pra humano, mas também pra cachorro, inseto, porco, anjos, e até mesmo vida inteiras no inferno. Além disso, o Buda alcançou a onmisciência, ou seja, ele lembrou de todas as suas vidas passadas e podia ver em cada um todas as vidas deles e sabia de tudo não somente sobre o caminho pra felicidade mas também qualquer informação ridícula como o número de formigas na Terra. Ainda mais, diz que o universo em que vivemos não é o único e não teve um começo. A palavra usada foi "Begginingless" daí a descrença em um Deus criador todo poderoso e onisciente que está de alguma forma acima de nós, que é de alguma forma superior. Dizem que além desse existem também outros infinitos universos com infinitos seres que são essencialmente todos exatamente iguais tendo todos o mesmo potencial para alcaçar o que o Buda alcançou e todos querem a mesma coisa, serem felizes e não sofrer.

Especialmente essa idéia de universo sem começo e sem fim me soou muito interessante... eu já era muito descrente da idéia de Jesus como o messias do senhor na terra e o caminho para a Salvação e também num era muito chegado na idéia de Deus, mas acho que existem muitas evidências que indicam alguma coisa além da matéria de alguma forma ou de outra... o próprio Chico Xavier é algo que eu não consigo imaginar como um falsário, então eu tenho digamos que uma conexão com alguma coisa espiritual... De qualquer forma, esses 10 dias valeram pra me dar um pouco mais de base pra responder Não à quem me perguntar se acredito em Deus, mas dada a explicação acima, acho que na verdade isso me trouxe mais pra perto de algum mundo espiritual do que pode parecer para quem tenha a cabeça fechada o suficiente para não perceber outras explicações sobre o incrível mistério que nos cerca. Eu nem de perto virei Budista, nem acho que sei o que se passa do mundo além da matéria, mas pelo menos fiquei um pouco mais incentivado a procurar, mesmo tendo a certeza quase absoluta que a minha verdade, algo que realmente me satisfaça, eu não vou encontrar antes da morte.

Eu sinceramente acho melhor não explicar mais nada a não ser isso, pq eu vo ter que resumir demais para fazer caber num post e vai ficar muito impactante e ninguém vai entender e vai achar que é lorota... mas na verdade é tudo muito palpável dentro de uma lógica bem simples, e num nível intelectual é bem possível de entender a essência da teoria. Só pra dar uma palhinha, depois de um conjunto de raciocínios, a filosofia vem e diz que você, essa idéia que vc tem de vc, ou o que a gente aprendeu o chamar de "Conciência de sí mesmo" vc sabe que vc existe, é uma ilusão. Não dizendo que vc não existe, mas que a idéia que vc tem sobre vc mesmo e depois sobre todo o resto, é extremamente equivocada, e essencialmente incompleta, e que não é simplesmente algo que possa ser concertado, mas sim é algo que deve ser completamente eliminado. Numa das séries de meditação, quer dizer numas 3 ou 4 delas, a gente ia construindo um monte de raciocínio que iam desmontando a idéia de gente que temos, e a sensação provocada é a da mais completa confusão que já senti na vida. Chega num ponto que vc não consegue mais construir imagens com vc no meio, ou algo assim... Ja reli e deu pra ver que nem vale a pena explicar mais... quem quiser saber mais pode me perguntar por email ou por comentário, mas o melhor mesmo é comprar um livro e encontrar um professor qualificado.

Bom, no final de 10 dias extasiados de pensamentos como esse, concordando com muitos, principalmente os mais básicos, e discordando e argumentando contra montões de outros, posso dizer que foi bom demais e que dá pra resumir o que eu tirei pra mim no trecho que coloquei no começo do post, e com aquele em itálico no meio sobre a existência ou não de Deus. Além disso posso dizer que o tal do caminho do Buda tem uma grande dose de força, pq lá pro oitavo dia e nono todo mundo andava com um puta sorriso na cara... eu lembro que um dia eu sai pra caminhar durante a aula de Yoga e minha boca ficou travada num sorriso e eu tava tão calmo e tão feliz sem motivo nenhum quase igual quando das poucas vezes em que fumei um baseado... duas ou três vezes a galera desperdiçou metade da seção de meditação pq ninguém conseguia parar de rir! Dá pra ver também nos vídeos do Dalai Lama e dos dois professores Budistas Tibetanos que foram visitar a gente, que os cara tão com um sorriso na cara o tempo inteiro, mesmo sabendo que a civilização e o povo dele está sendo massacrado, mais de 1 milhão de Tibetanos foram mortos pela invasão chinesa e eles mesmos vivem no exílio...

Um dos professores estava vivo durante a infasão e seguiu o Dalai Lama, então com 20 e poucos anos, para o exílio na Índia. Ele descreveu o evento: "Naquele ano, os Chineses carinhosamente nos disseram que era hora de deixar o Tibet, e conhecer o mundo afora" Pode parecer aqui que é uma ironia por parte dele, um tanto quanto hipócrita, mas de ver ele falar e depois de estudar a teoria vc entende que é na verdade uma mente treinada a evitar sentimentos ruins como raiva e fúria e incentivar compaixão e amor a todos, amigos, estranhos e especialmente inimigos. O próprio Dalai Lama disse que o principal professor da sua vida foi o senhor Mao Tsé Tung.

Bom, acho que já deu né?

Vo encontrar o Bunito amanhã e aí vamos pra Agra ver o Taj Mahal, e depois pra Varanassi, a principal cidade onde queimam os corpos no Ganges... depois vamos caminhar no Nepal.

Vcs já deviam ter notado como meu estado de espírito estava antes do curso, então eu deixo a vcs só imaginarem como está depois...

aos meus amigos atromelados recomendo absurdamente que façam o curso, e a todos que tiverem a chance recomendo também.


Ah, tive um idéia que achei muito legal pra um textino autoral... deve vir dentro de alguns dias...

Ah, esqueci de dizer que pra não terminar tamanha imersão culturo-expiritual de repente, ontem jantamos juntos algumas pessoas do curso e ficamos trocando figurinhas a respeito do que aprendemos... além disso devo dizer que parece que estou começando a viagem denovo hoje... ter que encontrar onde dormir, onde comer, pechinchar o preço, vix... pode até parecer estranho, mas eu preferia por muito ter a única preocupação de limpar as privadas todo dia... hoje passei o dia inteiro sentado num restaurante com um povo do curso olhando as montanhas, comendo e falando bobagem... deu muita vontade de ficar mais... mas vamo que vamo que a caravana não pode parar...

abraços!

domingo, 16 de setembro de 2007

A lei so silencio...

Bom galera,

to em Delhi e amanha embarco pra Daramshala. A estadia em Delhi nao foi muito produtiva, mas deu pra concluir de vez que eu nao gosto de cidades grandes. So conheci um pedacinho e fiz tambem um city tour nos monumentos mais importantes, mas tudo bem caretao, bem babaca mesmo, chegando a quase ser chato. Cidade grande ninguem tem tempo pra nada, nem os outros turistas... todo mundo tem alguma coisa pra fazer, algum lugar pra ir e isso e um saco...

mas o proposito principal da vinda ate aqui vai ser resolvido amanha, quando vou na embaixada pegar meu novo cartao. liguei pra visa e o fedex confirmou que o cartao foi entregue, entao deve dar tudo certo.

senao, ja tenho passagem comprada e vou pra daramshala sem lenco nem documento, e agora sem dinheiro tambem, chegando la ligo pra embaixada e vejo o que acontece.

Pra quem nao sabe, eu vo pra Daramshala pra fazer um curso de 10 dias de meditacao e Budismo Tibetano. Vo morar dentro do templo com os monges e valem todas as leis. Vegetariano, castidade e silencio total e absoluto. 10 dias sem falar com ninguem a nao ser nas aulas quando puder fazer pergunta e sem e claro contato nenhum com o exterior. vai ser sinistro!

depois encontro o bunito em Delhi e ai vamos terminar a fase indiana da viagem.

falou. amanha eu coloco um drops dizendo se deu certo o movi do cartao. esse e o ultimo post em pelo menos 10 dias, que a lei do silencio comecou...

shhhhhhh...

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Ajanta caves (video drops)

O texto fica pra depois...


segunda-feira, 10 de setembro de 2007

domingo, 9 de setembro de 2007

Hampi-Badami-Bijaipur

Nesses últimos dias estive entre 3 mundos: O Hindu, o Muçulmano e o Moderno. Além desses, que eram os principais a cada lado, ainda tinham as influências de todos os outros e estou exausto! A última noite principalmente assinou o futuro próximo: um curto exílio no mundo moderno para recuperar as forças.

O mundo Hindu foi o que eu vi em Hampi, uma cidade no interior da região da Karnatka, para onde fui fugindo do mau tempo das monções. Ai eu encontrei outro mau tempo, o do deserto: pedras marrons poeira e para completar a chuva o dia inteiro no horizonte e de vez em quando um ou outro pingo na gente só pra dar mais cede. Mas não era tão mal pois estava num vale bem amplo onde não chovia mesmo mas o vento estava agradável e o simples fato de ver o azul do céu depois de quase 2 semanas já era um agrado e tanto.

A estadia em Hampi foi muito foda! Formamos uns grupo entre Brasil (só eu dessa categoria) Israel, Inglaterra, Escócia e Alemanha, alugamos umas motinhas e fomos conhecer os templos, os banhos, as piscinas antigas e depois também as plantações, as vilazinhas minúsculas e até um engenho de cana de açúcar com garapa de cana e rapadura de primeira qualidade eu encontrei!

O lugar tem um mercado turístico muito bem feito, confortável mas sem perder a atmosfera indiana e sem formar um lugar falso. É uma cidade sagrada, então não tem nem nada que não seja vegetariano e nenhum tipo de álcool, o que de certa forma é bom pra espantar aquele turismo mais perda total que tem em Goa. O legal ali é viajar no tempo curtindo as ruinas e o visual do deserto em contraste com o oásis formado nas margens de um Rio que vem das montanhas na costa e traz de lá muuuita água das monções. Subindo nos mirantes dava pra ver o marrom pra todo lado e aquela costa de verde nas margens do rio, muito legal.

O mais legal de tudo é o quão legítima a viagem no tempo é nesse lugar. É muito maior que a fachada dos prédios! As pessoas cultivam os mesmos deuses e valores de centenas de anos atrás, aí vc vê as vacas pra todo lado (chifrudas como eu quase me esqueci que eram, mas bem verdade que muitas carregavam carroças e eu não entendi ainda como pode), os homens usam saias e andam de mãos dadas pelas ruas, os turistas não são muitos e enquanto a gente se interessa pelo povo eles se interessam pela gente e pedem pra bater foto perguntam nome, país, o máximo que conseguem... um ambiente muito bom. Num dos templos que a gente foi estavam construindo uma nova ala aí eu meio que reprimi dizendo que estavam construindo uma atração turística meio falsa, e dei essa idéia pra um indiano. Ele me contestou dizendo que estavam construindo mais um templo pra adorar os mesmos Deuses, algo totalmente legítimo, e eu tive de concordar.

Aí vai um videozinho do passeio de motoca da galera!!





Todas as noites por volta do por do sol o povo se reúne dentro de um dos templos e cantam umas músicas lá. O por do sol é uma atração a parte no lugar também... o nosso grupo pra definir o que iria fazer no dia começava escolhendo onde a gente ia curtir o por do sol. Um céu cor de rosa que eu nunca tinha visto... to mais acostumado cons tons laranja.

Aí olhamos no mapa e resolvemos seguir para Badami. O grupo se desfez e seguiu cada um prum lado, e isso é o mais legal de viajar sozinho. Cada hora com um grupo diferente, pessoas diferentes pra conhecer lugares diferentes e mais pessoas diferentes. Aí seguimos eu e a Shira, uma israelita judia bastante religiosa e quase tão nerd quanto eu pra ver os aspectos culturais daqui, com quem passo horas trocando observações do que a gente vê. O que nos levou pra Badami foram umas cavernas Hindus, bem legais mas de novo tomou a cena a diversidade cultura do povo.

Embora a atração fosse Hindu, a região era essencialmente muçulmana. Tinha mesquitas bem naquele formato Aladin e quase não se viam mulheres nas ruas, e quando as víamos estavam de preto dos pés à cabeça. Isso é a maioria, pq sempre tem umas vestidas com os saris, que é aquela vestimenta colorida mais tradicional da índia, e é incrível como podem coexistir extremistas de lados opostos em um lugar tão pequeno. Mas a cidade foi um atentado à nossa sanidade, pois não tem nenhum suporte a turismo de forma nenhuma, ninguém fala inglês, o povo te encara muito estranhamente nas ruas. Eu e a Shira éramos os únicos brancos e ela provavelmente a única judia. A gente era a atração principal. Mesmo quando fomos ver as cavernas, chegamos lá tinha um tour de uma escola e os moleques não queriam nem saber das pedras, só atacavam a gente e ficavam olhando. Até o professor vinha pra bater papo, mas como não falava inglês não passava do where are you from e what is our name. A rua principal é um caos inimaginável! Um transito cabuloso numa cidade bem menor que o bairro de Lourdes e mais gente andando que no centro de BH!!

Mas a cidade tem uma vocação pro turismo muito forte. Aqui deu pra ver investimento nisso. Construíram um lago artificial - só esqueceram de proibir as lavadeiras de usarem ele, então não vai durar muito - colocaram umas estátuas representando a vida pré-histórica na região, contruíram 2 museus bem novos e agora estão arrumando a cidade pra receber gente, além de manter muito bem as cavernas é claro. Mais ainda têm muito o que fazer: tem cachorro, gato, rato, bode, vaca e muitos porcos pra completar a festa no meio da rua cagando onde quiserem, enfim, fazendo aquele ambiente agradável... As ruas são bem no estilo de vila, bem estreitas, com chão de pedra, gente pra todo lado, quase agradável, por enquanto só curioso... mas deixa dar mais tempo que vai ficar um lugar gostoso de se ficar por uns dias, talvez como Hampi, mas por enquanto é um exercício de paciência e tanto...

Foi interessante quando fomos na internet, que era dentro da casa de uma família. eu até tentei usar mas era lerdo demais, então nem rolou, mas o massa foi a Shira brincando com as crianças da casa e vendo fotos da família de casamentos e tal. Tinha um muleque que falava um inglesinho mais ou menos e dava pra conversar. Pra ela foi o máximo que ela falou que foi a primeira vez que conversou com uma família de muçulmanos e tava quase chorando quando saiu da casa. Ela não é nem um pouco radical e acredita que a convivência seja possível, mas falou que em Israel é totalmente segregado e que por isso nunca tinha tido contato. Deve ter sido marcante pra ela e foi um pouco pra mim só de ver a cena...

Já tava afim de um descanço num lugar mais calmo e resolvemos ir pra Bijaipur, uma cidade maior ainda dentro da região islamica. Pegamos um trem pra Aurangrabad e fomos só pra passar raiva.

Na estação rodoviária roubaram minha carteira. Não perdi dinheiro, mas foram embora os cartões, e não tenho como sacar mais nada... o pior é que na Índia fica difícil de lidar com a situação: bloquear, pedir novos, arrumar algum lugar para recebê-los, qualquer telefonema é uma novela... Fiquei puto e nem queria passear pra lado nenhum e nem fomos numas mesquitas gigantes e passamos o dia no hotel jogando baralho... compramos um bilhete pro trem na mesma noite só pra afundar mais ainda no inferno astral.

O bilhete não foi confirmado, então não teríamos acentos... podíamos viajar, mas ia ser na marra, sentado no chão com mais uma galera que teve a mesma sorte que a gente, do lado da latrina mais porca que eu já vi na vida... Era rir pra não chorar e por um momento a gente até que conseguiu, mas depois foi ficando muito irritante e dava pra ver o desconforto na nossa cara... eis que uma boa alma cedeu seu acento - na verdade é uma cama - pra Shira, e ela resolveu dividir. Nassa, pra que... a cama não era grande o suficiente pro meu tamanho de comprimento e mesmo os braços tem que estar perto do corpo ou já caem pro lado de fora. O ventilador não funcionava o calor era infernal. Esprememos ali os dois ainda na companhia do meu travesseiro de 2 mil dólares, a mochila onde guardo o computador, o iPod e a máquina de fotos que num ia deixar de lado de jeito nenhum naquelas circunstâncias. Foi aquela coisa: arruma uma posição aguenta até doer demais, muda, muda de novo até achar mais uma e nem olha pro relógio pra não perceber que o tempo não esta passando. Embaralhamos os braços e as pernas nas mais diversas posições possíveis numa cumplicidade muito grande da parte dos dois, principalmente dela já que não estamos tendo um caso e dadas suas convicções religiosas... na maioria do tempo estávamos em posições no mínimo intrigantes dentro da relação de um homem e uma mulher, e confesso que tive de me concentrar pra não misturar as coisas mais do que já estavam misturardas. Foi realmente uma experiência para dar uma nova definição à idéia de "dormir abraçadinho".

Por volta das 2 da manhã meu corpo inteiro estava formigando e perdi a calma. Levantei empurrei uns indianos e fiz pra mim um espaço no chão. O foda é que na Índia os pés sã considerados partes impuras do corpo e então fica mais difícil de se encaixar no meio da galera quando não pode colocar os pés nem perto de nada que não seja outro pé. Eu meti o meu pezão na cara de uma velhinha que acordou só pra me meter um tapa e ensinar a respeitar a cultura dos outros, e me encolhi um pouco mas acabei achando alguma coisa que, naquelas circunstâncias, era quase confortável.

Essa foi sem dúvida a pior viagem da minha vida considerando um trecho único. O pior de tudo foi que eu estava pronto pra chegar e capotar nos trens tão bons que são quando se tem os bilhetes e não estava preparado de antemão para o perrengue... pior que isso foram só os 5 dias entre Cuzco e BH, que foram mais ou menos 5 dias nas mesmas condições dessa viagem, tossindo igual um porco, com a garganta fechada de bactérias e sem poder comer... mas é isso aí, o que não mata fortalece, até hoje nada me matou hehehe

Então chegamos hoje em Pune, 3.8 milhões de habitantes, e ligeiros confortos do mundo ocidental. Paro por 2 dias pra descançar, me despeço da Shira terça feira quando ela volta pra Israel, e sigo pra ainda não sei onde, sozinho até o próximo encontro.

Tive uma viagem interessante hoje e concluí que a idéia de meditação de isolar os sentidos limpar a mente, e meio que isolar do mundo não podia ter se desenvolvido em nenhum lugar que não seja esse. Algumas vezes a gente tem que fingir que não escuta, colocar óculos escuros como que escondendo dos olhares curiosos, ignorar o cheiro até que seja impossível... como eu não sou monge eu faço isso pegando um bom hotel com chuveiro quente e cama confortável... cada um tem seu jeito de encontrar a sua paz...

em 2 dias estarei pronto pra mais!

abraços!

Abaixo vão as fotos de uma maneira diferente dessa vez, pq esta muito difícil de manter elas naquela apresentação bonitinha de antes... se vc clicar nas fotos abrem-se mais possibilidades, e agradeçam ao Flickr...

sábado, 8 de setembro de 2007

Antes tarde do que nunca?? (Drops)

Num dos troca troca de trens entre o meio do nada chato e o meio do nada interessante foi roubado!
 
Mas os planos de evitar perdas em roubos funcionaram, entao perdi somente 10 dolares em dinheiro. Um filho da puta faminto roubou minha carteira na fila da passagem de trem... eu nao estava alerta o suficiente, estava cuidando da mochila e esqueci do bolso... nao senti nada, so percebi quando fui colocar o troco da passagem de volta...
 
Perdi os cartoes - pai, bloqueia ai! - e um monte de souvernirs... carteira de motorista do Texas, do Brasil, dinheiro das Bahamas e uns 20 roltulos de cervejas que estava colecionando... acho que foi so isso. O dinheiro grosso estava em outro lugar e esta comigo.
 
Agora tenho que ver como faco para arrumar outro cartao pra poder sacar denovo, que o que eu tenho nao deve durar nem um mes...
 
vamos continuando... quando eu ficar calmo coloco o post completo no ar...
 
abracos!

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Índia?

Há 2 posts consecutivos!! Um é uma estorinha que eu escrevi outro dia, o outro um resuminho de como foram os últimos dias... Abraços e aguardo comentários!!

Fala pessoal!

enfim a viagem pela Índia engrenou. A dúvida é se de fato eu estou na Índia mesmo...

Fiquei em Mumbai por 3 dias que não foram muito legais porque chovia demais e eu não sabia viver na chuva... fui aprender no terceiro dia: chove literalmente o dia inteiro, mas a maior parte do tempo é uma chuvinha muito fina que não molha nada. De vez em quando vem aquele pé d`água do caralho que tem que sair de baixo senão ensopa mesmo... Então é assim que a gente aproveita a índia durante as monções: sai durante a chuva fina. Quando percebe o sinal de que vêm a chuva forte esconte onde puder e espera a chuva passar... deu pra aproveitar o último dia em Mumbai nesse esquema. Fui num museu bem legal, de onde tirei a foto das criancinhas. A peça que mais me impressionou foi o chifre de elefante esculpido! É muito doido de ver ao vivo, espero que dê pra perceber pelas fotos!

Aí eu conheci uma Italiana chamada Marcella que está na sua 5 visita à Índia, então conhece bastante. Ela me deu umas dicas de comida e de lugares pra onde ir, então, seguindo uma delas, rumei para Goa, um estado pequeninino à umas 14 horas de Mumbai, ao sul, também na costa oeste.

O negócio é que Goa era uma importante colônia portuguesa de eras atrás. Daqui enviavam as tão faladas "especiarias" para a Europa durante os tempos das grandes navegações. Então o resultado é que aqui o pessoal fala português! Além disso, tudo é muito familiar pra eu que sou do Brasil e ainda por cima de Minas Gerais! As casas históricas são idênticas às de Ouro Preto, e as igrejas também são naquele estilão, banhadas de ouro! Então nem parece que eu estou na Índia, exceto quando eu vejo uma mulher toda vestida de azul e brilhantes ajoelhada no altar... isso a gente num vê no Brasil com muita frequência. Tá aí a imagem na foto, que mostra bem o caldeirão cultural que já deu pra ver que é a Índia... e falar nisso que grande altar, nada mais nada menos que o túmulo de São Francisco Xavier. Dá pra ver nas fotos os símbolos da ordem jesuíta, que era muito importante por aqui, então além de ver tudo igual ao meu país, vejo também símbolos da minha escola... assim não dá. Estive em Panjim, que é a atual capital de Goa, e por um dia em Old Goa, onde estão as igrejas, e agora estou na praia em Palolem.

Aqui tem muito turista e foi legal que eu agrupei com uma galera e saio daqui amanhã mesmo. A atmosfera é bem legal, mas é daqueles lugares que poderia ser em qualquer lugar do mundo, então um dia só pra juntar com o povo já foi bão. Ainda é tardinha por aqui, tipo 6 da tarde, então tem ainda a night e amanhã levando às 6 pra encarar 6 horas de trem pra Hampi, uma cidade mais indiana de fato, com vários templos muito ativos do Hinduismo.

Tá foda de escolher pra onde eu vou mesmo aqui dentro da Índia... acho que vou começar a ir pro norte agora, embora o sul seja o coração do Hinduismo, não tenho tempo de ver tudo... amanhã vou pra Himpi onde fico uns dias, depois pras cavernas de Ajunta, e depois eu descubro o que eu faço depois disso...

Bom, eu fui tentar postar de uma nova maneira pra ver se ficava mais fácil de deu tudo errado... as fotos estão menorzinhas e tá uma zona, mas to sem saco de arrumar então vai assim mesmo... Também vejo que o post ficou bem mais babaca, mas depois eu mando um mais inspirado... acabo de sair do mar, aqui a cerveja vem por litro e então não sei se foi uma boa hora, mas como foi a única hora que encontrei um wireless disponível, achei melhor colocar logo alguma coisa no ar!

Inté!




















Das monções e dos ratos

Posicionei minha câmera para que batesse uma foto de mim. Marquei o timer para 15 segundos, apertei o botão do disparo e me posicionei. Quando voltei percebi que havia gravado um filme e não batido uma foto. No centro estava eu com meu sorriso falso de sempre, se podia ver muitas pessoas a caminhar pela rua, mas às margens, no canto inferior esquerdo, uma cena marcante foi gravada.
Uma pessoa, lhe faltavam na face feições que se pudessem traduzir em sexo, segurava no que sobrou das mãos uma bela fatia de melancia. Não lhe restavam nenhum dos que talvez um dia foram 10 dedos, e mesmo as palmas das mãos lhe estavam decepadas pela metade; se distinguiam do braço apenas pelos movimentos do pulso. Há aqueles que acreditem que a sorte de alguém se pode ler das palmas de suas mãos: tínhamos aqui um exemplo cabal daqueles aos que não resta nenhuma sorte.
Contudo estava feliz. Equilibrava o banquete espremendo-o com os membros; o exibia aos colegas de miséria como quem levantasse um maravilhoso troféu. Os olhos de protagonista também acompanhavam sua presa, que balançava nos ares, inacreditavelmente equilibrada. Desviava a atenção apenas quando lhe alcançavam uma risada mais alta ou um barulho qualquer de espanto; os mirava como que para lhes confirmar que era verdade. A pele não tinha razão para achar graça, então sua feição continuava sempre a mesma. Uma contemplação doente, um sorriso febril e sem dentes, numa boca aberta de fome. Uma felicidade tênue na contramão de toda sua existência.

Dois dos muitos pares de pernas que passam à frente da nossa estrela param ao seu lado direito. Os olhos se viram a dividir sua alegria. Alcançam seus bolsos esquerdos, lhe atiram um par de moedas, e voltam a caminhar.

Aqui se pode ver, de se olhar muitas vezes, e se querendo permitir, uma ligeira alteração nos olhos em que nos concentramos de agora em diante. O corpo não acredita e por isso não obedece, mas a fraqueza dos olhos exibe ao mundo sua enorme felicidade, enquanto seus lábios estão a rir de sua própria miséria. É necessário colaborar com o narrador e dar lhe toda a força de sua imaginação, já que o nosso ápice chegaria ao fim antes mesmo que as moedas soassem ao atingir o chão, pois antes disso, uma delas acertou a melancia.
De volta aos olhos: o medo. Os membros sentiram uma ligeira vibração na presa, e somente agora os olhos voltam a concentrar-se em dar ao cérebro informação suficiente para trabalhar. Desavisado, emite uma ordem aos dedos que já não estão mais ali. Só agora lhe chegam as imagens, e se dá conta de seu grave erro. Dispara ainda um movimento repentino e mal calculado que descarta enfim todas as chances de sucesso. A melancia quica ainda duas vezes na pele seca antes de tocar o chão molhado.
Molhado das monções e da urina dos ratos. De volta aos olhos: o pavor. Já sabem que não há mais o que comer. Os que estavam gargalhando não suportaram e desviaram seus olhares. Uma última risada seca é rapidamente interrompida pela metade. Nossos olhos vão em direção à esse som e não encontram outros que lhe possam ser solidários, procuram onde agora pouco estavam os outros, e também não os pode encontrar.
Perdidos no abismo da solidão estes olhos se fecham. Não precisamos deles para ler a tristeza, ela sempre esteve no resto do corpo. Se abrem de dor, olham pra cima, para a melancia, e para todos os outros lados procurando ao menos as moedas, enquanto começam a chorar.
Depois dos olhos começa a chorar o corpo. Não os acompanhou na felicidade, mas o costume o leva facilmente a passear pela dor. Não se enganem: não houveram grandes transformações. A postura já era a mais entregue possível durante toda a cena, a face continua a mesma, os punhos grotescos ainda estão ali. Recebem de volta os olhos do seu delírio de felicidade, companheiros de sentimento, o único que lhes resta, por ser o único que se lembram de sentir.
Juntos apresentam o teatro do desespero. Os olhos lacrimejam, os punhos esmagam a melancia, o tronco se entrega ainda mais. Lábios abertos de fome num silêncio de angústia que não cabe dentro da sua existência, muito maior que aquela pessoa, uma a mais ou a menos em meio a tantos, mera coadjuvante de um vídeo meu.
Passaram muitas outras pernas, mas elas não param desta vez.


Panjim, Índia
2 de setembro de 2007

Escrevi esse texto como o primeiro de uma série que pretendo escrever durante a viagem. Foi bem divertido, e me fez passar bem mais rápido a madrugada do fuso horário e a manhã das monções. É um texto de ficção, embora repleto de elementos reais, como provavelmente serão todos os outros. Já tive muitas idéias mas essa foi a primeira que levei a cabo. Foi de ver que nem tudo é bonito no mundo que saiu bem angustiante. Nos Estados Unidos tudo era lindo, em Cuba era feio mas se podia ver a beleza escondida, mas na minha breve estadia em Mumbai só o que eu vi foi tudo aquilo que todos lutam para exterminar, além das pragas propriamente ditas.

E sempre tive vontade de escrever ainda que corriqueiramente estorinhas como essa e nunca de fato o fiz por não ter ninguém que fosse ler. Não queria escrever pra ficar só pra mim e nem tampouco mostrar a uns poucos amigos como uma confidência. Então, agora que o viajandão tem um público regular e que aparentemente está lendo o que eu escrevo, pareceu-me um momento oportuno, e lhes agradeço pela ajuda ainda que involuntária.

E se isso levantou em alguém qualquer dúvida já lhes apago: não tenho nenhuma vocação nem estou tendo uma ego trip de vir a ser escritor! Isso é só mais um elemento deste ano de sonho que eu estou vivendo.

M.V.A.