Ok, já falei que Pokhara, a cidadezinha do lago, é muito massa várias e várias vezes... deve ser por isso que eu acabei ficando aqui tanto tempo. Aí deu até tempo dos companheiros atromelados Sósia e Playboy chegarem à cidade!
Então, logo após eu dar oi e o inesperado tchau pro Bunito eu estava denovo com amigos do Brasil! Foi massa o re-encontro, já que a gente não se via desde que levei esses dois ao aeroporto em Pensacola saindo dos EUA, e como tava todo mundo simplesmente viajando o mundo, muita água tinha passado por baixo das pontes, e tinha muita coisa o que falar. Os caras tavam vindo de Chitwan, um parque nacional do Nepal, onde tinha sido atacados por um elefante! Disseram que o guia de repente apareceu correndo e gritando: "Run for your life!!" e o elefante enorme vindo correndo, gritando e derrubando as árvores pela frente, siniiiistro! hahaha O Playboy falou que ficou pensando que se ele fosse uma velhinha que não pudesse correr ele teria morrido com certeza!
Aí fomos celebrar à moda brasileira: cerveja no bar. Papo vai, papo vem, passamos dois dias em Pokhara, quando eles tentaram, sem muito sucesso eu devo dizer, aprender a andar de moto pra viajar no Vietnã... subimos umas montanhas aqui perto e resolvemos ir fazer a caminhada!!
Como a gente é do ITA, tudo tem que ser pra última hora. Cagamos pro guia que tínhamos arrumado quando a gente encontrou 5 holandesas que estavam indo fazer a trilha sozinhas. Compramos um mapa, resolvemos que teríamos no máximo 4 dias, e acabou que a única trilha possível nesse tempo era a mesma que as muié iriam fazer... será por que?
Então lá pra meia noite do dia antes eu e Sósia compramos umas capas de chuva, sacamos dinheiro e somente às 6 da manha do dia de partida fomos tirar a licença para a caminhada. No escritório do governo tirando a licença ainda encontramos as holandesas mais uma vez, e já adianto, foi, pra mim, pelo menos até agora, a última vez que as vi.
Antes que me chamem de veado tcho explicar: pegamos um carro até Nayapul, a cidade onde começa parque nacional de Annapurna. Aí fomos indo devagar pra trilha e certamente a gente encontrava as muié denovo Mááás...
quem tá acompanhando a viagem já percebeu que normalmente eu faço planos só pra chegar na hora H e mandar eles pro alto. Aconteceu mais uma vez. Chegamos numa encruzilhada onde se for pra um lado nego sobe pras montanhas de neve, num passeio de 7 a 10 dias, e pro outro segue pra trilha de 4 até umas fontes de água quente meio zerolas... A gente virou pro lado da trilha de 4 dias, andamos 2 minutos e eu falei... "Pô, dá mó vontade de ir pro outro lado..." Aí, o Sósia respondeu: "Dá memo... vamo?" E aí a gente voltou, pegou umas informações e decidimos ir pro outro lado! O Playboy não animou nem a pau, então rasgamos o mapa que tínhamos, ele ficou com a parte de 4 dias e a gente com a outra. Despedimos eu e o Sósia do Playboy e começamos a aventura!
10 minutos depois a gente já tava no meio do nada andando pelos Himalaias. A trilha começa muito suave, planinha, só cortando o vale, e então fomos puxando o ritmo. O Sósia tinha um voo marcado, então teriamos de ir o mais rápido possível. Quando começou a subida, que só iria parar mais de 3.500 - TRÊS MIL E QUINHENTOS - metros acima, a gente desacelerou, mas ainda chegamos à primeira vila onde pretendíamos dormir por volta das 3 da tarde, e concordamos que era muito cedo para parar a caminhada se a gente queria andar rápido, e resolvemos então seguir até a segunda cidade, fazendo a caminhada de 2 dias em 1 só! A gente resolveu isso numa mesa conversando com uma galera e tinha um gringo que achou a gente maluco e quase implorou pra gente não ir... mas não tinha jeito, a decisão tava tomada, e ele teve de desejar aquele "boa sorte" meio que dizendo: "depois num vem chorar pra cima de mim" hahahah
Pra que!!! O Próximo trecho era uma desgraça!! A gente ia descer tudo que tinha subido, atravessar um rio lá em baixo, e depois subir tudo de novo e mais um pouco!! Descemos o mais rápido que podíamos pois depois de comer, começamos a caminhar o segundo trecho por volta das 4 da tarde, então teríamos muito pouco tempo de sol! Atravessamos a merda do rio e começamos a subir uma parede cabulosa com uns degraus mais toscos que eu já vi na vida! Rapidinho caiu a noite e começou a festa...
Aí que a gente lembrou que ninguém tinha uma lanterna! Ou seja, a gente tinha ainda umas 2 ou 3 horas de caminhada no escuro sem luz nenhuma!! A única luz que a gente arrumou foi a do monitor da máquina de tirar foto, e a gente ia andando igual umas lesmas de vez em quando agachando pra luz poder alcançar o chão! Fora as encruzilhadas, que nem eram muitas, mas que numa situação dessas já te deixam maluco! Toda hora aparecia uma cachueira cruzando a trila e a gente tinha que pular de pedra em pedra, sem luz nenhuma, numa situação lamentável... E pra completar tava chovendo, ou seja, foi uma situação muito agradável...
Chegou num ponto que a gente resolveu parar assim que encontrasse uma casa pra ficar, seja onde fosse... achamos a tal casa com a ajuda de uma velhinha que tinha uma lanterna pior que a "nossa", mas que liderou a gente por umas plantações de arroz até um albergue. Os donos não estavam, e a vila acordou meio horrorizada com os malucos chegando por volta das 8 da noite! A velhinha buscou a filha do dono e ela nos fez um Yakisoba que foi um dos melhores que eu já comi na vida... a fome é certamente o melhor tempero que qualquer cozinheiro pode utilizar...
Só no outro dia a gente percebeu que tínhamos alcançado o nosso objetivo! A primeira casa que encontramos depois que decidimos parar foi exatamente a vila em que a gente queria chegar! Beleza, a gente já tinha ganhado um dia!! Aí começamos denovo por volta das 8:30 a andar até bem perto do topo da trilha. O trecho era mais uma vez uma merda, descer tudo, atravessar um rio, subir tudo denovo... depois devia vir uma parte mais ou menos plana, e depois começar a escalada final, que era menos íngreme mas muito longa.
Nesse dia a gente tava muito motivado com o sucesso do dia anterior e andamos muito rápido. Acho que ninguém passou a gente, e a gente ia engolindo os grupos que apareciam na nossa frente! Acabou que chegamos na meta de parada denovo mais cedo do que pensávamos - a gente chegou a fazer trechos na metade do tempo indicado - e então resolvemos seguir mais um pouco. Aí paramos por volta das 6, deixando só 3 horas pra alcançar o topo no dia seguinte!
Foda que na vila que a gente chegou tava tudo lotado e acabamos dormindo num estábulo de burrinhos!! Eles tiraram os burrinhos e colocaram camas de madeira e um colchãozinho maiado... não tinha nenhuma luz, só uma velinha fraca demais... pelo menos eles arrumaram um balde de água quente pra cada um tomar banho, já que como a gente parou às 8 da noite no dia anterior, ninguém tinha tomado banho, e depois de andar 2 dias a gente fedia tanto que só percebemos o mal cheiro do estábulo depois que a gente tomou banho, pq antes o nosso cheiro era mais forte que o cheiro de merda do quarto, e esse cheiro não era fraco não...
Aí acordamos às 9 do terceiro dia de subida pra cumprir mais 3 horas até o topo. O céu tava azul perfeito e a caminhada foi fácil demais! Deu pra ver direitinho quando a gente deixou o vale e se enfiou pra dentro das montanhas seguindo pra neve! Antes da gente chegar o tempo fechou, e sem sol a temperatura ficava melhor pra andar, aí eu saí igual uma bala e deixei o Sósia pra tras... nós dois estávamos mortos já, mas era preciso chegar cedo dessa vez, pra garantir um quarto decente, pois iríamos passar quase que um dia inteiro acampados no topo. Felizmente deu certo... tivemos que dividir com uns franceses - um deles fumava em média 10 cigaros de hashishe por dia - mas foi de boas.
À noite as nuvens colaboraram e mostraram pra gente onde a gente tinha se metido... a neve começava logo ali, dentro do alcançe a menos de 10 minutos subindo um pouco mais. Deu pra tirar algumas fotos e viajar no lugar, mas o melhor mesmo ficaria pra o outro dia de manhã, no nascer do sol.
Só que quando a gente levantou, às 5:30 da matina, num frio do caralho, e abrimos a porta, recebemos uma bela duma neblina que não deixava ver nem a casa em frente à nossa! Eita felicidade que eu senti nesse momento! A gente já tava planejando ganhar mais um dia na descida e então teríamos de sair o mais rápido possível... mas as núvens começaram a abrir então ficamos até às 8:30, e valeu a pena demais! Foram as paisagens mais dramáticas que eu já vi! Tudo muito íngreme, cheio de neve em pleno verão, os raios do sol cavando buraquinhos entre as núvens dando aquele contraste bonito... o visual era sinistro!
Mas era hora de descer... fomos conversando e resolvemos que iríamos era descer tudo em 1 dia só!! Então, depois de esquentar um pouco andando, começamos a descer é correndo mesmo! O trecho ajudava pois era uma decidinha suave, e a gente ia passando de vila em vila como se não fosse nada... demorou 2 horas pra subir, era meia hora pra descer... aí fomos avançando e avançando, mas chegou num ponto que ficou claro que teríamos de andar de novo durante a noite.
Isso não desmotivou a gente e continuamos. Encontramos um caminho alternativo que cortava um dos sobe e desces cabulosos de atravessar o rio, e fomos seguindo. Tínhamos uma lanterna dessa vez, mas ela era uma merda, e quando a noite chegou, nos diziam que estávamos ainda a 3 a 5 horas do final. Fomos seguindo o máximo que aguentávamos, mas a trilha era muito apertada pois não era a principal, então não era muito utilizada, e não estávamos avançando nada... a cada passo meu joelho direito parecia que ia explodir, e o Sósia reclamava de dores nos dois tornozelos, então mais uma vez resolvemos parar na próxima vila que encontrássemos, rezando pra gente não demorar muito pra encontrar ela...
Aí achamos uma... dessa vez tinha até chuveiro com água aquecida... depois de tirar umas 5 sanguesugas dos pés de cada um, comemos uma pizza e jogamos a toalha... completaríamos a trilha no outro dia. Devo confessar que essa foi a derrota mais agradável da minha vida hahaha. Esqueci de dizer que choveu praticamente todo o dia enquanto a gente descia, e estávamos imundos! Matar a fome, tomar um banho e descançar as pernas e acima de tudo descançar a cabeça - administrar sofrimento físico é um enorme trabalho intelectual - cobria de longe a frustração de não ter conseguido cumprir a meta...
Mas, tudo é bão... acordamos cedinho, adamos umas 3 horas e chegamos... em Pokhara o Sósia descobriu que podia ainda pegar um busão e alcançar o avião a tempo, e partiu no mesmo dia pra Nove Delhi, pra uma maratona de 32 horas de viagem num busão na Ásia... RAÇA GAROTO!!
Então fiquei denovo sozinho... amanhã vou pra Kathmandu pular o Bungee Jump, e dia 19 Bangkok!
Enfim, a trilha foi doida demais!! A paisagem é um absurdo, pra todo lado tem pelo menos 5 cachoeiras a vista, aquela neblina de montanha, os raios do sol, o vale mais íncrime que já vi... o topo então é sem condição! E foi bom pra me recuperar da derrota de 2004 em Coquequirao no Peru, quando dei PT e tive de comprar um burinho pra cumprir o último dia... valeu a pena demais!! Recomendo pra quem tiver disposição!
A trilha que fizemos chama ABC trek, Annapurna Base Camp, sendo que Annapurna é a 10 montanha mais alta do mundo, com 8082 metros, ou algo assim... a base fica a 4100, que não é o ponto mais alto em que já estive, mas como eu saí andando desde 800, foi a maior subida a pé de que já experimentei...
Agora eu vo ali tomar uma massagem!
abraços!
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Quatro dias entre o céu e a terra (ABC Trek)
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