Cuba sí...

Eu fui pra Cuba sem conhecer porra nenhuma de lá, e tive a perfeita experiência... nada deu errado, não tomei nenhum calote e tive tempos memoráveis na ilha. Já tentei escrever o post 3 vezes e sempre ficava grande demais! Resolvi separar em 2, esse mais sobre o que eu fiz por lá, e outro mais sobre como eu comparava o que eu via ali e o que eu conhecia de fora, mais politizado... Acabei que falhei miseravelmente, pois não consegui evitar de enfiar muita política nesse post também. De qualquer forma ainda há muito para o próximo, então aí vai do jeito que está, já que eu não acho que possa tirar mais nada, senão vai ficar muito incompleto do tipo hoje eu acordei, tomei banho tomei café, e prefiro abusar da paciência dos leitores do que reduzir a viagem a um diário de bordo militar...
Como nas Bahamas onde estou agora é tudo muito caro, acho que não vou fazer nada de mais e não terei muito o que escrever sobre esse lugar. Vou ficar estudando o Lonely Planet Índia, e assim, lá pelo final da semana, eu coloco o outro post. As Bahamas ficaram meio que de fora da viagem, já que nem queria estar aqui desde o princípio, e só estou por burocracia - amanhã vou ao consulado americano - e agora que estou não quero estar mais ainda! Não recomendo Nassau e seus arredores a ninguém, a não ser que tenha muito dinheiro e muita preguiça pra não querer ver nada a mais que um mar azul.

Espero que gostem, e que voltem em breve para o próximo! Já aviso que está IMENSO, mas li de novo e me pareceu agradável...

abraços!

Estive em 3 cidades de Cuba: Havana, Cienfuegos e Trinidad. O roteiro eu fiz com ajuda do senhor Rolando, dono da casa particular onde me hospedei em Havana, que me ajudou dando dicas de para onde ir, e me indicou outras casas onde ficar nas outras cidades. Sua mulher e filha me faziam uma comida muito boa e uma jarra de suco de manga hipergelado todo dia que eu chegava em casa depois de passear. Eu ia dar uns rolés perto de Havana depois de voltar de Trinidad, mas como ia sair muito caro, e o furacão estava próximo, eu nem fui... Conheci o Rolando no aeroporto quando sua filha veio falar comigo, dada a minha óbvia aparência de viajante liso, sobre os serviços de hospedagem que prestavam. Já sabia da existência das casas particulares e conhecia os preços mais ou menos, e como não tinha outra indicação, resolvi ir pra casa deles, que foi uma ótima experiência, e recomendo pra quem quiser ir.

Havana é cidade para se caminhar por horas e de se ficar boqueaberto com o que se vê. Conheci 4 municípios da cidade: Centro Havana, Havana Vieja, Vedado e Havana del Leste. Cada um é bem particular; a casa era em Vedado, que é muito bonito é arborizado onde as cosntruções não tem um estilo tão característico mas estão em melhor estado. Aqui moravam os americanos ricos durante o regime Batista, Havana del Este é mais pobre, onde estão conjuntos Habitacionais e praias onde não há turismo, mas o destaque mesmo fica para Centro Havana e Havana Vieja.

O centro é bizarro!! Eu nunca vi um conjunto tão grande de arquitetura tão marcante. É muito maior e muito mais elaborado que todo o centro histórico do Pelourinho por exemplo, e nem se compara com Ouro Preto ou nenhuma outra cidade do interior de Minas. Por toda a cidade tem sempre uma praça onde os bancos estão sempre tomados já que ninguém tem muito trabalho pra fazer... Dá pra imaginar o quão fabulosa seria a cidade caso tudo estivesse conservado, mas o que se encontra é o resultado de 50 anos de desleixo. Os prédios estão caindo aos pedaços a não ser em uma pequena região de Havana Vieja onde há mais turismo. A primeira impressão é chocante, mas não se pode dizer que é feio, pq na verdade eu achei muito bonito. Os carros são velháááássos tipo da década de 50! De vez em quando eu via um mercedez sinistro e ficava louco pra entender como alguém pode ter um daquele quando todo mundo tem as outras lamas! O mais popular é o Russo LADA, que é um caixotinho tipo um Fiat 147 sedan... O cheiro é obviamente de óleo queimado - hahaha - por todas as ruas, mas é tudo em geral bem limpo, sem lixo nas ruas, então já é melhor esse cheiro do que de matéria em decomposição. Além dos carros velhassos e dos carros nem tão velhos, há uns bicitaxi, iguais aos pedicabs com que trabalhei em San Diego, porém é claro mais toscos, que operam só em Havana Vieja, e são praticamente grátis, por cobrarem em Moeda Nacional.

Todo mundo já ouviu falar que na Bolívia, Peru, e até na Argentina já ouvi, de cardápios diferentes para gringos e para latinos, sendo que os loirinhos branquelos pagam mais caro. Em Cuba não são só restaurantes ou os comerciantes informais, mas existe toda uma economia paralela programada para arrancar dinheiro dos turistas. Faz muito sentido, pois tudo que se vende aos Cubanos possui altos subsídios do governo, e sendo assim é injusto que turistas, por não cooperarem com o sistema, utilizem dos benefícios do mesmo. Acaba que há 2 moedas, a Nacional, que é a dos cubanos, e a Conversível, para os turistas. Há lojas destinadas exclusivamente a receber conversíveis, que é equiparado ao dólar, sendo que a cotação da Nacional é de 1 para 25. Ou seja, gastar em conversíveis é coisa de turista, pois a renda mensal média em Cuba é de 15 dólares, e como a economia é planificada, a média é realmente algo muito próximo do que quase todo mundo ganha. Essas lojas para turistas possuem preços razoáveis em doláres, mas não chegam a ser caras, e a qualidade é muito boa, e como são também todas do estado, o país ganha muito dinheiro com o turismo. Os hotéis de luxo são de parceria do estado com umas empresas européias, e então o turismo em Cuba é um Robin Hood generalizado, tirando dinheiro de quem visita e passando pro governo repassar pra quem não tem. Não é entretanto ilegal que o turista troque seu dinheiro em moeda nacional e gaste como os cubanos, mas irá encontrar serviços muito mais modestos, e como o resto não é tão caro a maioria não gasta muito na economia local. Há por outro lado um alto controle no que diz respeito a cubanos trocando dinheiro de conversíveis para moeda nacional, a fim de impedir que pessoas não autorizadas para lidar com turistas o façam e assim ganhem muito mais que todos os outros. É um sistema bem lógico e organizado. É muito fácil viajar em Cuba, e embora não seja nem perto de barato, também não é muito caro não...

Estive com duas mulheres da Inglaterra por 2 dias, fomos a alguns paladares, que são os restaurantes na casa das pessoas que tem licença do governo para tal, e que, igualmente às casas particulares onde podemos nos hospedar, eu recomendo absurdamente!! Ambos os negócios pagam altas taxas independente do quanto arrecadem, então é importante dar uma força pra essa que é a primeira geração de empreendedores cubanos. Depois fomos para a night com uns camaradas dos EUA que encontramos e fizemos a farra com duas garrafas de Havana Club bailando salsa! Comi o café da manhã virado no hotel das gringas inglesas, com quem passei o dia também no outro dia ao encontrá-las no meio da rua. Eram muito gente fina e conversávamos por horas, foi bem legal a companhia delas.

Viajei para Cienfuegos, onde passei só um dia dado que não há muito o que fazer por lá... o bom foi o carnaval que teve a noite! Igual aos do Brasil, só que com ritmo de salsa, e com Mojito do lugar da cerveja! Uhu! a farra foi boa demais!! O dono da casa onde fiquei era fisioterapeuta e me passou uns exercícios pro meu pé que até hoje não sarou por completo daquela pancada no futebol dos EUA. Gente fina demais! Tinha morado na Bulgária estudando quando existia o campo socialista, e assim falava espanhol, búlgaro, inglês e francês! Conhecia toda a Europa e me xingou até a morte quando eu falei que não ia passar por lá num trecho da minha viagem hehehehe. Ai vai um video do desfile, que nao e muito legal... a farra eu nao filmei pq fiquei com medo de quebrar a maquina... tava chuvendo um pouco também...

Depois fui pra Trinidad, que é uma vila muito turística perto de Cienfuegos. Ali eu conheci umas muchachas argentinas muito legais, com quem fui mergulhar numa barreira de corais com snorkel, e uns maluco da Espanha que estão viajando pela ilha de Bike. Rolou umas praias e uma night forte, e outras mais calmas nas escadarias da igreja, onde tinha sempre uma bandinha de Salsa. Conheci uma irlandesa ali nas escadas, e conversa vai, conversa vem, conversa vai, conversa vem, vai, vem, vai, vem, vai vem... Trinidad é uma cidade muito boa de se estar, bem preguiçosa, pra ficar meio de bobeira sem ter a obrigação do turismo propriamente dito... é bem rústica, e o detalhe são os casarões que existem. A casa particular onde fiquei parecia um palácio! Tinha portas e janelas enormes tudo muito iluminado durante o dia, e o teto era muito alto, os móveis eram bonitos de madeira caoba e o teto era todo trabalhado com um tipo de palha. Principalmente depois das 5 da tarde, fica muito agradável de estar na rua, quando a galera que veio nos balaios dos resorts que estão por perto vão embora e a cidade fica mais calma. Na praça principal há um restaurante em moeda nacional onde eu e as argentinas comemos os 4 por um total de 2 dólares americanos, 50 cents pra cada um. Ai vai um videozinho de Trinidad:

Voltei pra Havana achando que ja tinha dado o que tinha que dar quando concluí que estava redondamente enganado. Aí que eu fui para Havana del Leste e vi os conjuntos habitacionais e como são as coisas fora do centro, e o que é obra do comunismo de fato, uma vez que o centro e praticamente toda Havana foram construídos antes da revolução. Ali, é claro, não existe a bagagem histórica bonita que há no centro, somente caixotes no estilo militar que além de feios por natureza estão tão acabados quanto o centro da cidade. Por sorte encontrei as argentinas na rua, e fomos pra um show do Carlos Varela, que é como um Chico Buarque, que faz protesto contra o regime, e de tão conhecido já não podem fazer muita coisa contra ele... só galera djoven, o povo era aficcionado pelo neguin e todo mundo cantava as músicas bizarro! O show foi nos Jardins da Tropical, que é um lugar sensacional, com um monte de árvores enormes com caminhos entre elas e um espaço aberto que é praticamente todo coberto pelas copas das árvores! Há algumas casinhas todas com hera nas paredes ou feitas de madeira ou de um certo modo que se misturam muito bem com o mato todo ao lado criando uma atmosfera muito boa... queria ter ido passar um dia por ali... se liga na galera pirando no show:

Teve um dia que eu comprei um charuto e fiquei sentado na praça de bobeira lendo um livro sobre o Bolívar. Eu não fumo mas achei o Havano bão pa carai. Também, por 10 doletas tinha que ser... Nessa hora vieram uns caras querendo me vender charutos e eu conversei com eles bastante. Um tinha morado nos EUA até ser preso com 4 Kg de coca e ser deportado. O outro, seu sobrinho, trabalhava na fábrica de charutos de Havana e estava louco pra sair do país... A venda de tabaco também é grande fonte de divisas para o governo, já que os trabalhadores ganham seus 15 doletas por mês e cada charuto custa mais que 10. Os dois, ao menos assim me disseram, tinham seu negócio estabelecido: o sobrinho roubava charutos da fábrica e o padrinho, usando o inglês que fala muito bem, os vendia. Eu fui ver o que eles tinham, e me levaram pra uma casinha onde havia um camarada meio que de segurança. Conversei ainda um monte com eles e fiz um monte de perguntas e eles tinha todas as respostas, e senti que estava lidando com contrabandistas profissionais, e me senti confortável para comprar uma caixa a quase 25% do preço na loja. Depois fui e comprei uma unidade na loja só pra comparar. O olhar, o peso o cheiro e o gosto são tão idênticos quanto meus sentidos podem comparar, então acho que fiz um bom negócio. Até mesmo os adesivos de certificado de origem e de pagamento de impostos os caras tinham, então não tive problemas para sair com a minha caixa contrabandeada do país... Nas lojas saía por 360 dólares, sendo que paguei $40! Nas Bahamas entrei numa loja de Charutos para comparar e pra minha surpresa uma caixa como a minha tava $225, menos que numa loja em Cuba! Aí falei isso com o vendedor e tive a explicação: o cara era cubano e tinha um amigo que trabalhava na fábrica e blah blah blah... então acho que o esquema é mais comum que eu pensava, e comparando mais uma vez estou seguro que os meus são 25 legítimos Cohiba Esplêndido, os favoritos do Fidel Castro, e mais aclamados pela crítica internacional!

Falar nisso num dia que eu tava lá foi aniversário do Fidel, e como cortesia as padarias, que são todas do estado, distribuiam bolos pras pessoas! Achei massa, mas o bolo era mei ruim... mas achei simpático hehe

O ápice da emoção foi no penúltimo dia, quando tava indo no banco e percebi que meu cartão em nome do meu pai não estava na minha carteira! Logo lembrei que não tinha tirado ele do caixa automático que tinha utilizado no meio da rua dois dias atrás, no centrão de Havana! Pensei: agora eu meti o pé na jaca!! Saí correndo, peguei um TX, e numa sorte do caralho tinha uma estação policial bem na frente do caixa, e meu cartão estava lá!! UFA!!!

Falar nisso polícia é também um dos destaques de Havana e de Cuba em geral... tem muuuuuita polícia por lá. Em geral desarmados, apenas com cacetetes, mas a maioria não tem nem isso. Assim o país é muito seguro. Em Havana vieja é sinistro... a cada quarteirão há 2 ou 3 policiais...

O mais marcante foi que eu vim para Cuba em alta prioridade pois o Fidel - ou Fifo, como dizem aqui - está mais pra lá do que pra cá, e acreditava que com sua morte a situação em Cuba viria a mudar muito. Agora depois de conhecer um pouco da ilha acho que a situação ali é muito mais estável do que pensava, e creio que o país vai seguir, mesmo após a morte do seu atual "comandante em chefe", pelo caminho no qual ele o colocou. Uma das argentinas que conheci viveu aqui por 6 anos há uns 5 e disse que está tudo do mesmo jeito. "Cuba no cambia" disse ela... Mesmo que acredite numa gradativa abertura do país, acho que não vai ser uma coisa repentina ou tumultuada, pois pelo que me pareceu, a maioria dos cubanos é favorável ao regime em que vivem, e têm a Fidel com um ídolo e não como um tirano.

Como podem ver, eu não consigo me desviar de escrever sobre assuntos políticos, então eu vou terminar logo com esse post e deixar esse assunto pro próximo.

A impressão final foi a mais positiva possível. Recomendo a todos uma viagem a Cuba, e se eu puder eu volto pra ir com que for... Muito se fala dos aspectos negativos do regime e eu não sou nem de perto partidário de qualquer coisa que se possa dizer esquerda, mas é inegável o que já foi alcançado aqui, mesmo estando na contramão da economia mundial, com bloqueio e o caralho. Até mesmo quando à acesso a bens de consumo, o que vi aqui foi muito superior ao que vi em La Paz e outras cidadezinhas da Bolívia, Peru e Brasil por onde estive (querer comparar aos EUA nesse aspecto já é demais, embora em alguns outros os americanos percam feio) então acho que não se deve condenar para sempre o regime que como eu vou dizer no outro post mais "político" muito já alcançou. Cuba é um país com uma identidade cultural muito forte, de motivações políticas interessantes e um modo de vida muito calmo, sem a tão famosa correria do dia a dia... enfim, depois eu falo mais sobre essas cosias.

Primeiro país da viagem propriamente dita, já é o primeiro que entra na lista dos lugares pra onde ainda tenho de voltar...

Pra finalizar, devo dizer que estou muito satisfeito com o meu Portunhol avançado, que agora classifico como Espanhol Intermediário! Conversava com todos sem problemas e os locais me confundiam com espanhóis, e os espanhóis me acreditavam ser argentino! Além disso, li o livro do Garcia Marquez todo em espanhol! 200 páginas e eu li com boa fluidez! É claro que virou mecheu me faltava uma palavra, mas até em português me falta às vezes, fazer o que né!?

Seguem as fotos e abraços! Na post com todas as fotos do blog há mais fotos de Cuba que não estão no post!

até!